Outra Quinta Gramatical começando! A figura de linguagem de hoje é a catacrese, conhecida também como metáfora petrificada, pois é uma metáfora já absorvida ao senso comum.
A catacrese consiste no uso de uma palavra, ou expressão, de forma denotativa, isso é, fora de seu contexto original, a fim de expressar algo para o qual não há termos apropriados, ou o termo não é de uso popular. Essa figura pode ser considerada uma forma de gíria e seu objetivo é facilitar a comunicação humana.
As catacreses mais comuns são as que fazem referências a partes do corpo humano (e/ou animal).
Exemplos de uso comum:
maçã do rosto – parte do corpo humano que o nome científico não é conhecido popularmente*
pescoço de garrafa – pescoço é algo que só existe em animais
céu da boca – céu é usado com o sentido de parte superior de uma região
batata da perna – a palavra “batata” faz referência apenas ao formato da panturrilha
Exemplo na literatura:
Ninguém coça as costas da cadeira.
Ninguém chupa a manga da camisa.
O piano jamais abana a cauda.
Tem asa, porém não voa, a xícara.
De que serve o pé da mesa se não anda?
E a boca da calça se não fala nunca?
Nem sempre o botão está em sua casa.
O dente de alho não morde coisa alguma.
Ah! se trotassem os cavalos do motor …
Ah! se fosse de circo o macaco do carro …
Então a menina dos olhos comeria
Até bolo esportivo e bala de revólver.
– Inutilidades, José Paulo Paes
*em caso de alguém ter ficado curioso(a), o nome técnico da maçã do rosto é osso malar!
Essa foi a Quinta Gramatical de hoje, até semana que vem.