O post de hoje é mais um sobre como incluir diversidade na escrita. Já falamos sobre a construção de personagens femininas e de dicas gerais para incluir personagens diversos e não estereotipados. Dessa vez, daremos um enfoque às pessoas com deficiência.
Como outras minorias na sociedade, as pessoas com deficiência sofrem com estereótipos quando representados na mídia, mas é mais frequente que sejam completamente esquecidos e invisibilizados. Assim, o primeiro conselho desse post é: escreva personagens com deficiências. E o segundo conselho: aprenda quais são os estereótipos e fuja deles a todo custo. Para ajudar nisso, listamos algumas coisas que são consideradas ofensivas ao retratar alguém com deficiência.
Vilanização da deficiência
É grande o número de vilões que têm alguma deficiência, sendo que isso é usado para torná-los ainda mais sinistros e vis. Alguns exemplos seriam Capitão Gancho, de Peter Pan e Darth Vader, de Star Wars. No caso de Darth Vader, fica claro o uso da deficiência para dramaticidade, uma vez que o corpo do vilão é quase todo uma máquina, dando-lhe uma aparência forte e sua voz característica, o que o desumaniza.
Doenças mentais são usadas com frequência para tornar o vilão imprevisível e, assim, mais perigoso. O Coringa é um dos grandes exemplos disso, embora a versão mais recente, interpretada por Joaquin Phoenix, fuja desse estereótipo, mostrando que o personagem tem, de fato, uma doença diagnosticada, com sintomas claros.
Essa maneira de representar doenças mentais é prejudicial porque os vilões não apresentam nenhum sintoma, só uma representação genérica de “insanidade”.
É claro que é possível ter um vilão com deficiência em sua história, mas é preciso ter cuidado e se perguntar algumas questões chaves como: o vilão é o único personagem com deficiência? A deficiência é usada para tornar o vilão mais assustador? A doença mental do personagem é assintomática e estigmatizada? Se sim, é hora de rever a construção dessa personagem.
Desamparo
Representar uma personagem com deficiência como alguém incapaz de viver sem a assistência dos outros é bem prejudicial. Ter uma deficiência não é fácil e as pessoas talvez precisem, sim, de mais ajuda e estão mais vulneráveis à violência, inclusive por conta de preconceito, mas representá-las como seres sem agência alguma sobre suas vidas reforça o estereótipo de que elas não podem agir por si mesmas e são dignas de pena ou um fardo para os outros personagens. Lógico, é preciso levar em conta as dificuldades e problemas que essas pessoas enfrentam em seu dia a dia. E também não quer dizer que uma personagem com deficiência nunca deva sofrer ou enfrentar algum empecilho. A questão é que é preciso entender que esse tipo de representação já foi feito muitas vezes. Uma personagem com deficiência não deveria ter que ser resgatada sempre, ela deveria, também, ter poder para responder às coisas que acontecem à ela, lidando com o que acontece ao seu redor assim como os outros personagens da trama.
Usar como piada
É um tanto óbvio, mas não custa lembrar. Não faça piadas com o corpo de uma pessoa com deficiência, ou com sua doença mental. Não use a personagem com deficiência para ser um alívio cômico se isso tiver relação com sua aparência ou psicológico. Quer dizer que uma personagem com deficiência não pode ser engraçada? Não. Quer dizer que ela pode ter um senso de humor próprio, uma personalidade divertida, tudo certo. O que não deve virar piada é a personagem em si, sua existência.
Uma grande tragédia ou uma história de inspiração
Pessoas com deficiência são mais do que sua deficiência. É importante ter esse fato óbvio na cabeça quando for criar um personagem, porque, se esquecemos disso, surgem os clichés a seguir.
Em histórias em que pessoas com deficiência são representadas como uma grande inspiração, um exemplo de superação, cria-se a ideia de que, de certa forma, a personagem impõe a si mesma suas limitações, e se tiver a dedicação certa, poderá superar todos os obstáculos que a deficiência lhe traz. Um exemplo disso é Forest, de Forest Gump. Esse tipo de representação se respalda em algumas coisas, como que pessoas com deficiência são corajosas e destemidas só por realizarem tarefas do dia a dia, já que a deficiência é uma barreira tão grande em suas vidas. Isso implica, também, em uma descrença que pessoas com deficiência possam realizar qualquer coisa.
Além disso, usa-se o feito de uma pessoa com deficiência para argumentar que pessoas sem deficiência não tem desculpa para não realizar algo, seja encontrar um amor, ganhar algum torneio esportivo e etc. Isso manda a mensagem de que pessoas com deficiência são menos capazes dos que as pessoas sem deficiência, afinal esse tipo de história parece estar perguntando ao espectador: “se alguém menos competente que você consegue, por que você não?”
Também existem as histórias que representam a deficiência como uma tragédia intransponível. Um exemplo disso é a história de Como Eu Era Antes de Você, com o personagem Will, que prefere se suicidar a viver sendo uma pessoa com deficiência. Existem, sim, histórias de pessoas que se assemelham à de Will. Mas não são todas, e contar esse cliché tantas vezes é afirmar que qualquer coisa é melhor do que ter uma deficiência, e que “conseguir suportá-la” é o maior dos heroísmos.
No fim das contas, para criar uma personagem com deficiência é necessário encarar a deficiência como mais uma característica que compõe aquela figura, não seu todo. É fácil cair em vícios nesse sentido, principalmente por essa ser uma discussão que está ganhando voz na mídia mais vagarosamente do que as outras quando se trata de diversidade, mas não há porque ter medo de escrever personagens com deficiência. É necessário pesquisa e atenção, mas é isso que a escrita demanda na maioria das vezes, não?
Esse post foi escrito, em grande parte, com base nas informações do site abaixo. Vale a pena conferir!
,https://mythcreants.com/blog/four-tips-for-depicting-characters-with-disabilities/
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