“Na colônia penal”, de Franz Kafka

“Os adeptos esconderam-se, existem vários, mas ninguém admite.”

Aniversariante do mês, o escritor Franz Kafka (1883 – 1924) é um dos nomes mais conhecidas da literatura mundial. Com uma obra tão única que gerou um adjetivo – “kafkiano” – em diversas línguas, o autor se debruçou sobre uma série de temas: desde as relações familiares mais íntimas – o texto “Carta ao pai”, de Kafka, demonstra como essa figura foi importante tanto em sua vida pessoal como em sua obra – até os impactos da estrutura econômica e social do mundo contemporâneo sobre os sujeitos – “O Processo”, também obra célebre e exemplar da obra kafkiana, explora a insanidade labiríntica dos processos jurídicos contemporâneos.

O texto de hoje traz a vertente política e social da obra de Kafka. O conto (ou novela, em razão de sua extensão) “Na colônia penal” tem como pano de fundo o colonialismo, amplamente praticado na história contemporânea por grandes nações europeias como a França e a Inglaterra.

A narrativa aborda um explorador, estrangeiro, que chega em uma colônia penal para observar as práticas e hábitos de lá. Dentre as questões observadas, o explorador se depara com um sistema penal radicalíssimo: uma vez que alguém de “confiança” apontasse que um sujeito cometeu um crime, essa pessoa imediatamente era punida, sem chance de defesa, com a pena capital. Contudo, essa pena não se aplicava com uma execução simples: um antigo comandante criara uma máquina que “desenhava” no corpo do punido, dolorosamente, por horas, alguma frase correspondente a seu crime (por exemplo, caso o sujeito fosse acusado de desrespeito, a frase “Respeita teus superiores!” seria inscrita em seu corpo), até que o punido morresse. Na época do antigo comandante, essa execução era pública, e atraía toda a população da colônia, num evento festivo. Agora, quando o explorador entra em contato esse sistema (através de um oficial que aplica a execução e defende o sistema), há um novo comandante, que põe em risco a existência desse sistema penal.

A obra é de grande profundidade, abordando não apenas a insanidade jurídica desse procedimento como também a espetacularização e aprovação pública dessas execuções. Provocando sérias reflexões quanto à barbárie e violência presentes também no mundo contemporâneo, a obra é de grande interesse para todos.

O texto pode ser acessado nesse link.

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