Você acredita em monstros?

A suspenção da descrença no terror Sabe quando você está assistindo um filme de terror e o protagonista parece tomar as piores decisões...

A suspenção da descrença no terror

Sabe quando você está assistindo um filme de terror e o protagonista parece tomar as piores decisões possíveis? Por exemplo, se a luz está piscando em um canto da sala, ele vai justamente naquela direção. Se as pessoas estão gritando na rua à noite, ele sai de casa. Por que? É óbvio que algo vai dar errado.

Ao mesmo tempo, se o personagem não tomasse uma decisão notoriamente errada, não haveria história — ao menos, não uma que fosse interessante.

Com isso, no estudo de caso de hoje, falaremos sobre o fenômeno da suspensão da descrença e, para isso, nos apoiaremos nas ficções de terror sobrenatural.

O que é suspensão da descrença, afinal?

O termo “suspensão da descrença” surgiu do livro Baladas Líricas, no qual o poeta Samuel Taylor Coleridge apresenta a fé poética — a capacidade de “imergir” em um universo ficcional, sendo que, para isso, é necessário acreditar em algo que talvez seja impossível.

Então, a suspensão da descrença é o compromisso, entre leitor/espectador e autor/diretor, de aceitar e acreditar na narrativa sem contestar.

Esse recurso funciona e é muito utilizado no entretenimento. É por causa dele que aceitamos histórias com a presença de vampiros, super poderes, viagens no tempo e afins, já que, na realidade, nada disso existe comprovadamente (pelo menos, por enquanto).

A verdade é que a fé poética não é comum a todas as pessoas, afinal cada um tem as próprias crenças. Sendo assim, alguém que não acredita em espíritos, por exemplo, pode suspender intencionalmente a incredulidade para aceitar as consequências críveis na ficção.

Como deixamos de acreditar em uma história?

Agora que ficou claro que acreditamos no impossível constantemente, vamos falar sobre quando a descrença não é suspendida, isto é, quando não dá mais para acreditar no que lemos ou assistimos.

Enquanto, por um lado, é possível acreditar em acontecimentos e elementos irreais, por outro, a improbabilidade não é bem aceita. Há uma grande chance de que a suspensão da descrença seja comprometida diante de um acontecimento improvável. Por isso, é normal não nos importarmos com os monstros do terror, mas sim com as ações daquele personagem que faz justamente o que não deveria ser feito para evitar uma determinada situação. O monstro faz parte das regras estabelecidas pela história, já a ingenuidade do personagem, não.

Todas as construções de universos fictícios propõem regras, dessa forma, dependendo do tom da obra, é possível decidir acreditar ou não no que é contado. Como exemplo: no filme Uma Noite de Crime, uma vez por ano, crimes de qualquer tipo são legalizados nos Estados Unidos. Contudo, a narrativa se propõe a ser levada a sério e interpretada como uma crítica à sociedade, sendo que a verdadeira proposta é representar sangue e violência de forma gráfica. Nesse caso, é o tom do filme que prejudica a sua credibilidade.

Conclusão

A suspensão da descrença é útil e extremamente importante para ser levada em conta em uma história. Por causa dela nos preocupamos com os personagens e deixamos o julgamento do que seria normal de lado para aproveitar o entretenimento. Para autores e diretores, a suspensão pode tanto fortalecer a imersão na narrativa quanto consertar pequenas falhas. No entanto, se usada demasiadamente, passa conveniência. Portanto, é importante usá-la, mas sempre com moderação.


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