Quando se entra na universidade, é muito fácil se perder entre os trabalhos a serem feitos, as datas de avaliações, leituras da semana e exercícios a serem entregues. E, além disso tudo, o meio acadêmico muitas vezes exige que certos trabalhos se adequem a determinadas regras de escrita e formatação. Existe a APA, conjunto de regras oriundas do manual de estilo da American Psychology Association; existem as Normas de Vancouver (ou estilo Vancouver), desenvolvido pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos; e há, também, um dos mais populares conjuntos de normas para a elaboração de trabalhos acadêmicos no Brasil: a norma ABNT.
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é o Foro Nacional de Normalização, responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (NBRs), que buscam padronizar os aspectos da produção de um determinado objeto – como, por exemplo, um trabalho acadêmico. Mas não somente: a ABNT também atua na avaliação da conformidade e dispõe de programas para certificação de produtos, sistemas e rotulagem ambiental, dentre outros.
Segundo a própria entidade, “não basta, para começar, que apenas um homem saiba produzir tais objetos. Também não adianta que ele seja capaz de fazê-lo apenas uma vez. O produto do trabalho humano é o produto da sociedade humana […] O trabalho humano se torna material por meio de procedimentos, regras, instruções, modelos, que podem ser repetidos, ensinados e aprendidos. Sem essa condição fundamental – a expressão do conhecimento em regras compreensíveis pelo outro – a civilização material não tem condições de se reproduzir. Ensinar e aprender a criar são atos que requerem uma linguagem comum”.
Hoje nós iremos falar de algumas das regrinhas mais úteis de se ter à mão quando se vai produzir um trabalho acadêmico: como fazer uma citação, uma referência e qual deve ser a formatação, tudo de acordo com a ABNT!
Então vamos lá:
Formatação
Comecemos pelo aspecto mais básico de um trabalho: a formatação, a “aparência física” dele. O documento da ABNT que estabelece as regras para a composição de trabalhos acadêmicos é a NBR 14724. Ela especifica diversos aspectos de um trabalho acadêmico, mas aqui nos ateremos aos mais básicos, que é recomendável estarem presentes em todo e qualquer trabalho que se faça no meio acadêmico.
Em primeiro lugar, a NBR em questão estabelece que “os textos devem ser apresentados em papel branco, formato A4 (21 cm x 29,7 cm)”.
As margens esquerda e superior do documento devem ter 3 centímetros; as margens direita e inferior devem ter 2 centímetros.
As fontes mais comumente utilizadas no meio acadêmico são Arial e Times New Roman. A ABNT estabelece que o tamanho da fonte deve ser 12 para todo o texto (exceto em caso de citação, que abordaremos mais adiante, e alguns outros).
A NBR em questão estabelece que o espaçamento do texto deve ser de 1,5 para todo o documento (excetuado citações, referências e alguns outros casos específicos).
E, por fim, a NBR diz que “os títulos das seções devem começar na parte superior da mancha [isto é, a área do documento em que se pode escrever, inserir algo – que não fica em branco na impressão] e ser separados do texto que os sucede por dois espaços 1,5, entrelinhas. Da mesma forma, os títulos das subseções devem ser separados do texto que os precede e que os sucede por dois espaços 1,5“.
Bom, esclarecidas essas questões básicas sobre a formatação de um trabalho acadêmico, vamos abordar duas questões importantes: citações e referências!
Citação
As regras de citação são estabelecidas pelo documento NBR 10520, da ABNT. Todas as informações presentes no texto a seguir foram extraídas deste documento.
Primeiro, precisamos fazer a distinção entre uma citação direta e uma citação indireta. A NBR 10520 define uma citação direta como sendo uma “transcrição textual de parte da obra do autor consultado”. Ou seja, simplesmente se transcreve um trecho da obra consultada diretamente no trabalho que você estiver elaborando. Uma citação indireta é definida como um “texto baseado na obra do autor consultado”. Ou seja, você compõe um texto de sua própria autoria, com suas próprias palavras, mas fundamentando-se nas ideias do autor em que você está se baseando.
Para fazer uma citação direta, deve-se levar em conta a extensão do trecho que irá ser transcrito. Para citar trechos de até três linhas dentro do seu texto, deve-se conter o trecho entre aspas duplas (aspas simples são utilizadas para marcar uma citação que estiver dentro do trecho que você está citando). Além disso, na citação direta, logo após o trecho citado, deve-se fazer uma chamada, isto é, marcar o sobrenome do autor em letra maiúscula, seguido da data de publicação da obra e das páginas consultadas.
Eis aqui um exemplo de citação direta de até três linhas: “Apesar das aparências, a desconstrução do logocentrismo não é uma psicanálise da filosofia […]” (DERRIDA, 1967, p. 293).
Para fazer uma citação direta com mais de três linhas, o trecho deve ser destacado com recuo de 4 cm da margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado (ou seja, se o seu texto estiver em tamanho 12, deve-se citar com tamanho 10 ou menor) e sem as aspas. As regras para a chamada são as mesmas.
Em razão do meio em que estamos escrevendo este texto, não conseguiremos dar um exemplo perfeito de como deve ser uma citação direta com mais de três linhas. Portanto, aqui está apenas um esboço, mas lembrem-se de seguir com exatidão as regras citadas acima quando forem elaborar seus próprios trabalhos:
A teleconferência permite ao indivíduo participar de um encontro nacional ou regional sem a necessidade de deixar seu local de origem. Tipos comuns de teleconferência incluem o uso da televisão, telefone, e computador. Através de áudio-conferência, utilizando a companhia local de telefone, um sinal de áudio pode ser emitido em um salão de qualquer dimensão. (NICHOLS, 1993, p. 181).
Quando for o caso de fazer uma citação indireta, deve-se apenas chamar o nome do autor em que suas ideias se basearam, em letras maiúsculas e minúsculas, seguido, entre parênteses, da data de publicação da obra do autor em que se encontram os pensamentos citados.
Um exemplo: A ironia seria assim um forma implícita de heterogeneidade mostrada, conforme a classificação proposta por Authier-Reiriz (1982).
Há mais alguns aspectos da citação que devem ser mencionados. Quando se fizer uma citação, deve-se marcar quaisquer supressões, interpolações, comentários, ênfases ou destaques que acrescentarmos ao texto. Deve-se fazer essa marcação do seguinte modo:
a) supressões […]
b) interpolações, acréscimos ou comentários: [ ]
c) ênfase ou destaque: grifo ou negrito ou itálico.
Sobre esse último item, a NBR 10520 estabelece que “para enfatizar trechos da citação, deve-se destacá-los indicando esta alteração com a expressão grifo nosso entre parênteses, após a chamada da citação, ou grifo do autor caso o destaque já faça parte da obra consultada”.
Eis aqui dois exemplos:
“[…] para que não tenha lugar a produção de degenerados, quer physicos quer morais, misérias, verdadeiras ameaças à sociedade .” (SOUTO, 1916, p. 46, grifo nosso).
“[…] b) desejo de criar uma literatura independente, diversa, de vez que, aparecendo o classicismo como manifestação de passado colonial. […]” (CÂNDIDO, 1993, v. 2, p. 12, grifo do autor).
E, para finalizar essa breve seção sobre citação, deve-se falar do caso de citar algum autor que foi citado por outro autor. Por exemplo, no caso de você estar utilizando uma determinada obra e, dentro dessa obra, o autor citar algum outro autor que, esse sim, você quer utilizar como referência.
Nesse caso, deve-se chamar o sobrenome do autor que você estiver citando, seguido, em parênteses, da data de publicação da obra desse mesmo autor – após isso, utiliza-se a expressão “apud” (que quer dizer “citado por, conforme, segundo”) e, então, cita-se o sobrenome do autor e a data de publicação da obra em que se encontra a citação daquele autor, o que você está utilizando.
Um exemplo para esclarecer: segundo Silva (1983 apud ABREU, 1999, p. 3) diz ser […]. Isto é, nesse caso eu estou citando uma ideia de Silva, conforme ela foi citada dentro de uma obra de ABREU.
Além dessas especificações, há muitas outras regras que ABNT estabelece para se fazer uma citação. Para se aprofundar nessas regras, confira você mesmo a NBR 10520.
Referência
O documento da ABNT que normatiza o modo com que se deve fazer referência a um determinado objeto é a NBR 6023. Todas as informações do texto a seguir foram extraídas deste documento. Ele aborda um vasto número de objetos passíveis de serem referenciados, desde correspondências até documentos jurídicos. Neste texto iremos nos ater aos objetos mais comuns de serem referenciados por estudantes universitários.
A ABNT estabelece que a referência a um determinado objeto pode aparecer:
a) no rodapé;
b) no fim de textos, partes ou seções;
c) em lista de referências;
A NBR 6023 diz que “as referências devem ser elaboradas em espaço simples, alinhadas à margem esquerda do texto e separadas entre si por uma linha em branco de espaço simples. Quando aparecerem em notas de rodapé, devem ser alinhadas à margem esquerda do texto e, a partir da segunda linha da mesma referência, abaixo da primeira letra da primeira palavra, de forma a destacar o expoente e sem espaço entre elas”.
A NBR estabelece que uma referência é constituída de elementos essenciais: são as informações indispensáveis à identificação do documento – no caso de livros, são o autor, o título, subtítulo… adiante falaremos mais sobre isso. Os elementos essenciais estão estritamente vinculados ao suporte documental e variam, portanto, conforme o tipo – isto é, variam se o objeto for um livro, um folheto, um manual…
A norma também diz que, quando necessário, a referência pode ser acrescida de elementos complementares – são as informações que, acrescidas aos elementos essenciais, permitem melhor caracterizar os documentos. Pode ser o ISBN (Número Padrão Internacional do Livro), o DOI (Digital Object Finder, sistema utilizado para identificar documentos digitais em redes de computador), enfim, certos elementos não essenciais que auxiliem na caracterização dos documentos
Os elementos essenciais e complementares são retirados do próprio documento e devem refletir os dados do documento consultado.
Nesta seção do texto, iremos abordar aspectos da referência a livros, trabalhos acadêmicos e artigos científicos. Mas, antes disso, vamos falar um pouco sobre a questão do autor.
A autoria de um objeto pode ser de uma ou mais pessoas físicas, jurídicas, ou, se for o caso, de autoria desconhecida.
Falemos sobre cada uma dessas possibilidades.
Autor pessoa física
Tratando-se de pessoa(s) física(s), a NBR estabelece que: se tratando de apenas uma pessoa, “o autor deve ser indicado pelo último sobrenome, em letras maiúsculas, seguido do prenome e outros sobrenomes, abreviados ou não, conforme consta no documento”. Um exemplo: LUCK, Heloisa. Liderança em gestão escolar. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
No caso de haver mais de uma pessoa física, “quando houver até três autores, todos devem ser indicados”, seguindo as mesmas regras estabelecidas para apenas uma pessoa física. Exemplo: PASSOS, L. M. M.; FONSECA, A.; CHAVES, M. Alegria de saber: matemática, segunda série, 2, primeiro grau: livro do professor. São Paulo: Scipione, 1995. 136 p.
Ainda segundo a NBR, “quando houver quatro ou mais autores, convém indicar todos. Permite-se que se indique apenas o primeiro, seguido da expressão et al“. Exemplo: URANI, A. et al. Constituição de uma matriz de contabilidade social para o Brasil. Brasília, DF: IPEA, 1994.
E, além disso, “quando houver indicação explícita de responsabilidade pelo conjunto da obra, em coletâneas de vários autores, a entrada deve ser feita pelo nome do responsável, seguido da abreviação, em letras minúsculas e no singular, do tipo de participação (organizador, compilador, editor, coordenador, entre outros), entre parênteses. Havendo mais de um responsável, o tipo de participação deve constar, no singular, após o último nome”. Exemplo: FERREIRA, Léslie Piccolotto (org.). O fonoaudiólogo e a escola. São Paulo: Summus, 1991.
“Outros tipos de responsabilidade (tradutor, revisor, orientador, ilustrador, entre outros) podem ser acrescentados após o título, conforme aparecem no documento”, como neste exemplo: ALBERGARIA, Lino de. Cinco anos sem chover: história de Lino de Albergaria. Ilustrações de Paulo Lyra. 12. ed. São Paulo: FTD, 1994. 63 p.
Autor pessoa jurídica
Quando a obra em questão tiver sido elaborada por uma pessoa jurídica, isto é, uma empresa, um órgão governamental, dentre outras possibilidades, deve-se registrar a forma conhecida de referência à pessoa jurídica ou, então, a forma destacada no documento em questão. Exemplo: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Catálogo de teses da Universidade de São Paulo, 1992. São Paulo: USP, 1993. 467 p.
Tratando-se de mais de um autor, seguem-se as regras referidas neste mesmo texto, na seção sobre autor pessoa física.
Autor desconhecido
A NBR é clara: “quando a autoria for desconhecida, a entrada deve ser feita pelo título. O termo Anônimo ou a expressão Autor desconhecido não podem ser usados”.
O exemplo a ser seguido é este: PEQUENA biblioteca do vinho. São Paulo: Lafonte, 2012.
Livros
Esclarecida a questão da autoria, falemos sobre como referenciar livros. A NBR 6023 estabelece um conjunto de regras que se aplicam a diversos elementos sob o rótulo de “monografia”, que inclui livros, folhetos (termo que abrange manuais, guias, catálogos, enciclopédias, dicionários, entre outros) e trabalhos acadêmicos (teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso, entre outros).
Os elementos essenciais para livro e/ou folheto são: autor, título, subtítulo (se houver), edição (se houver), local, editora e data de publicação. Quando necessário, acrescentam-se elementos complementares à referência para melhor identificar o documento.
Um exemplo de referência apenas com os elementos essenciais: LUCK, Heloisa. Liderança em gestão escolar. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
Agora, um exemplo acrescido de elementos complementares: LUCK, Heloisa. Liderança em gestão escolar. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. 165 p., 18 cm. (Cadernos de gestão, v. 4). Bibliografia: p. 149-155. ISBN 978-85-3263-62-01.
Trabalhos Acadêmicos
As regras para referenciar trabalhos acadêmicos são muitos parecidas com as regras para livros e folhetos. A NBR diz que “os elementos essenciais para trabalho acadêmico são: autor, título, subtítulo (se houver), ano de depósito, tipo do trabalho (tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso e outros), grau (especialização, doutorado, entre outros) e curso entre parênteses, vinculação acadêmica, local e data de apresentação ou defesa“. Novamente, é lembrado que “quando necessário, acrescentam-se elementos complementares à referência para melhor identificar o documento”.
Um exemplo apenas com os elementos essenciais: RODRIGUES, Ana Lúcia Aquilas. Impacto de um programa de exercícios no local de trabalho sobre o nível de atividade física e o estágio de prontidão para a mudança de comportamento. 2009. Dissertação (Mestrado em Fisiopatologia Experimental) – Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
Um exemplo acrescido de elementos complementares: RODRIGUES, Ana Lúcia Aquilas. Impacto de um programa de exercícios no local de trabalho sobre o nível de atividade física e o estágio de prontidão para a mudança de comportamento. Orientador: Mario Ferreira Junior. 2009. 82 f. Dissertação (Mestrado em Fisiopatologia Experimen tal) – Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
Artigo científico (parte integrante de alguma publicação periódica)
As regras a seguir valem para “partes de publicação periódica, artigo, comunicação, editorial, entrevista, recensão, reportagem, resenha e outros”.
“Os elementos essenciais [para esse tipo de documento] são: autor, título do artigo ou da matéria, subtítulo (se houver), título do periódico, subtítulo (se houver), local de publicação, numeração do ano e/ou volume, número e/ou edição, tomo (se houver), páginas inicial e final, e data ou período de publicação. Quando necessário, acrescentam-se elementos complementares à referência para melhor identificar o documento”.
Um exemplo apenas com os elementos essenciais: TEICH, D. H. A solução veio dos emergentes. Exame, São Paulo, ano 43, n. 9, ed. 943, p. 66-67, 20 maio 2009.
Um exemplo acrescido de elementos complementares: MENDONÇA, Lenny; SUTTON, Robert. Como obter sucesso na era do código aberto. Entrevi stado: Mitchekk Baker. HSM Management, São Paulo, ano 12, v. 5, n. 70, p. 102-106, set./out. 2008.
Ufa! Chegamos ao fim desse nosso pequeno manual sobre os aspectos mais básicos das regras ABNT. É importante lembrar que as NBRs citadas possuem muito mais conteúdos e especificidades nelas do que nós citamos aqui – caso você tenha alguma dúvida mais específica sobre alguns dos elementos abordados nesse texto, acesse os links referentes a cada uma das NBRs que nós citamos através de todo o texto.
Essa iniciativa surge com intuito de valorizar a educação e as universidades. O nosso post educacional ocorre mensalmente aqui no blog. Com ele, a Odisseia tem como objetivo apresentar o que é produzido nas universidades, além de incentivar a entrada nelas. Acreditamos na mudança por meio da educação, assim essa é a nossa pequena contribuição para a valorização do nosso futuro!