Pensar que as Áreas de Humanidades, Artes e Ciências Sociais não produzem pesquisas relevantes é um grande equívoco. E foi justamente por esse pensamento, no início do ano de 2020, em meados de abril, que o governo divulgou a pré-chamada do edital de bolsas, realizada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), excluindo as bolsas de iniciação científica voltadas para as ciências humanas. Após grande repercussão e críticas de órgãos como a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), além do apoio de diversas entidades científicas, o governo acrescentou um parágrafo ao documento, informando que as bolsas de iniciação científicas seriam preferencialmente (e não obrigatoriamente) voltadas às áreas de tecnologia e que as Humanidades não seriam excluídas. Essa alteração amenizou a questão, mas o problema ainda está longe de ser resolvido.
O corte de bolsas das ciências humanas implica não só em um descaso com as outras áreas do conhecimento, mas também em um desejo de investimento voltado somente para áreas que tragam retorno rápido e tecnológico. Um governo que queira investir somente em tecnologias é, de longe, problemático, uma vez que ele não reconhece as infinitas contribuições das Humanidades. Além disso, para desenvolver a ciência brasileira, é necessário dar importância e valorizar todas as áreas do conhecimento, visto que uma área não “apaga” ou “diminui” a outra, pelo contrário, elas se somam. Essa relação entre as áreas fica evidente na fala de Sergio Granemann, coordenador do PIBIC na Universidade de Brasília (UnB): “Para ser completa, a produção científica, tecnológica e de inovação deve ser incentivada em todas as áreas do conhecimento”.
Especialistas como Maria Arminda do Nascimento Arruda, professora titular e diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP também afirmam que essas atitudes do governo refletem uma “ideologia política autoritária”, afinal os governos não querem estudantes e pesquisadores críticos e questionadores, mas sim indivíduos que aceitam tudo de forma passiva e que não pensem de forma contrária ao Estado. Ainda sobre essa perspectiva, a presidente da Comissão de Pesquisa da Faculdade de Direito da USP, Nina Ranieri, afirma, em um artigo, que “É nas Humanidades que se constrói o pensamento filosófico e político que propiciou o Estado de Direito, a separação de poderes, os direitos humanos, o regime democrático, conquistas civilizatórias nas quais o Direito tem papel fundamental”. Ou seja, é papel das Humanidades estimular os estudantes a pensarem em seus direitos e a perceberem as desigualdades e injustiças sociais. Essas reflexões sociais só são possíveis graças às ciências humanas, área que os governos desejam tanto desvalorizar e minimizar devido à sua grande importância.
“Não existe desenvolvimento social sem as humanidades e as ciências sociais; assim como não existe desenvolvimento tecnológico sem a ciência básica”- Maria Arminda do Nascimento Arruda.
Por isso, fica evidente que a luta pela valorização das Áreas de Humanidades, Artes e Ciências Sociais ainda não terminou e que precisa, cada vez mais, ser estimulada para que essas áreas sejam valorizadas e recebam o investimento que elas merecem. É nosso papel lutar pelas ciências humanas e pela valorização de todas as pesquisas que já foram realizadas. As Humanidades não podem (e não devem) perder (o pouco) espaço que elas possuem!
Sites usados como referência:
https://www.adunb.org/post/cnpq-decreta-fim-das-bolsas-de-inicia%C3%A7%C3%A3o-cient%C3%ADfica-para-ci%C3%AAncias-humanas (a imagem usada nesse post foi retirada desse site).
https://jornal.usp.br/universidade/politicas-cientificas/atenuadas-restricoes-a-bolsas-de-iniciacao-cientifica-do-cnpq-continuam-alvo-de-criticas/
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