3 dicas para escrever histórias de terror

O gênero do terror, se pararmos para pensar, proporciona uma liberdade grande para quem o escreve, do ponto de vista das requisições que...

O gênero do terror, se pararmos para pensar, proporciona uma liberdade grande para quem o escreve, do ponto de vista das requisições que o enredo deve seguir. No romance, por exemplo, os personagens devem se apaixonar. No mistério, geralmente há um crime, alguém investigando quem o cometeu e um grupo de suspeitos. No terror, desde que o leitor fique devidamente aterrorizado com a história narrada, pode-se ter qualquer enredo.

Ora, é lógico que não é exatamente tão simples. É mais do que comum vermos gêneros sendo misturados ou reinventados. O ponto aqui é que existe, de fato, um leque imenso de possibilidades para se trabalhar na hora de escrever terror. Assim, nesse post a intenção é dar dicas para ajudar a navegar a possibilidade criativa que é esse gênero, com o melhor aproveitamento possível.

1. Terror é sobre como as personagens reagem ao se deparar com o enredo

A frase acima é de Tina Jens, no livro “On Writing Horror – A Handbook by the Horror Writers Association”. Nesse trecho, a autora fala sobre a importância de bons personagens em uma história de terror. Por melhor que seja o enredo, diz ela, se os personagens a que somos apresentados forem bidimensionais, rasos, o impacto da narrativa é mínimo.

É importante que as personagens tenham personalidades interessantes, complexas. Mais do que em qualquer outro gênero, no terror os defeitos são essenciais. Como eles são afetados pela situação horrível em que estão? O que faz com que se comportem de certo jeito? Nenhum leitor leva a sério o personagem que, depois de ouvir barulhos em seu porão de noite, vai verificar o que está acontecendo munido de uma lanterna na mão e nenhuma explicação lógica para fazê-lo. Atitudes assim tiram o leitor da imersão da história, e é exatamente isso que não queremos. Isso não quer dizer que o personagem não possa fazer coisas que vão contra o senso comum. O importante é que ele seja construído de tal forma que, quando decidir se aventurar no porão amaldiçoado no meio da noite, seja uma ação que faça sentido, por mais que seja inconsequente.

A personagem também é tão essencial porque suas sensações irão ditar como nos sentimos lendo a história. Um lugar ou ocasião geralmente relacionados com felicidade e segurança, visto pela perspectiva de certo personagem e com a escolha de palavras certas, pode passar o extremo oposto ao leitor.

2. Originalidade e clichês

Como dito anteriormente, o terror é um gênero de vastas oportunidades. Contudo, é também um dos gêneros que mais relacionamos com clichês, com mais frequência quando pensamos em filmes. A maioria dos clichês nesses filmes, inclusive, tem a ver com o problema na construção de personagem, onde eles fazem coisas estúpidas para que o enredo possa acontecer, e acabamos não os levando, ou o horror que estão enfrentando, a sério.

Muito já se foi feito no campo do terror, e muita coisa boa. Assim, a ideia de que criaremos um monstro, um conceito ou um enredo completamente original é bem pouco provável. Como em qualquer outro gênero, originalidade total é um objetivo quase impossível de ser alcançado. Isso não quer dizer que não devemos procurar algo que diferencie nossa história das outras, a questão é que isso pode ser feito de outras maneiras.

Com isso eu quero dizer que uma história de terror ser sobre o encontro do protagonista com uma bruxa, um dos “seres sobrenaturais” mais conhecidos e usados, não significa que será automaticamente livre de inovação. O estilo do autor, o tom da narrativa e as personagens fazem toda a diferença na hora de criar algo único. Outra coisa que ajuda a criar uma história singular é o tema que a guia, e como ele é explorado.

3. O tema que guia a história

Terror é sobre tragédia e infortúnio. Seja sob a forma de terror psicológico, visceral ou sobrenatural, o gênero é sobre o que nos aterroriza, o que nos faz sentir fora do controle e em contato com as partes mais dolorosas e, por isso, tabus de nossa existência. O papel de alguém que trabalha com terror, nas palavras do cineasta Akira Kurosawa, é não desviar o olhar. Ou seja, é olhar para essa tragédia, seja como medo, perda, esquecimento ou violência, e decidir se debruçar sobre isso, com o máximo de realismo cabível à narrativa.

E, bem, o “tema guia” é basicamente isso. Histórias de terror, por tratarem de algo tão intrínseco e inconsciente ao ser humano, raramente são só o que se vê de primeira, principalmente as mais interessantes.

Em “Frankenstein” de Mary Shelley, por exemplo, o tema por trás da criação monstruosa de Victor é sobre o que significa ser humano. “Eu sou a lenda”, de Richard Matheson é sobre isolamento e ser diferente. Esses temas não são feitos para serem expostos ao leitor, mas para servirem como um caminho a seguir com a narrativa. Os personagens e as ações que tomam entram em cena para reforçar esse tema, o que dá profundidade e peso para a história, mesmo que o leitor perceba isso somente em um nível subliminar.

Bom, é claro que não esgotei todos os conselhos sobre escrita de terror aqui. Esses três pontos são questões interessantes a se levar em conta se propor a escrever algo no gênero, inclusive por se conectarem com conselhos de escrita mais gerais e abrir espaço para discussões outras.

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Mariama Soares Sene Pereira
Mariama Soares Sene Pereira
Artigos: 26

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