Winx Club vs. Winx Fate

Quanto se pode mudar uma adaptação? Aviso: esse post contém spoilers No começo deste ano, chegou à Netflix a primeira versão em...

Quanto se pode mudar uma adaptação?

Aviso: esse post contém spoilers

No começo deste ano, chegou à Netflix a primeira versão em live-action da série animada Winx Club. Até o momento, as opiniões sobre Fate: A Saga Winx têm sido negativas, e, nesse Estudo de Caso, vou analisar tanto a história original quanto sua releitura de 2021, buscando, na comparação, as qualidades e defeitos de cada uma. Mais do que buscar entender por que as impressões da série são tão descontentes, também gostaria de discutir até que ponto é justo se referir a Fate como uma adaptação de Winx.

Comecemos, então, com a sinopse de ambas as versões.

Winx Club (2004)

Criador: Iginio Straffi

A série segue as aventuras de um grupo de garotas conhecidas como Winx, estudantes (e mais tarde graduadas) do Colégio Alfea para Fadas, que se transformam em fadas para lutar contra vilões. A equipe é composta por Bloom, a líder ruiva com poderes baseados em chamas; Stella, a fada do Sol; Flora, a fada da natureza; Tecna, a fada da tecnologia; Musa, a fada da música; e Aisha, a fada das ondas. Roxy, a fada dos animais, ocasionalmente se junta às Winx e todas as três produtoras do show se referem a ela como o sétimo membro do Winx Club. Os principais personagens masculinos são chamados de Especialistas, um grupo de alunos e mais tarde graduados da escola Fonte Rubra que estão romanticamente envolvidos com as fadas Winx. Eles incluem o noivo de Bloom, Sky; O noivo de Stella, Brandon; O namorado de Flora, Helia; O namorado de Tecna, Timmy; e o namorado de Musa, Riven. Ao contrário de suas contrapartes femininas, os especialistas não têm poderes mágicos e, em vez disso, treinam como lutar usando armas a laser. Os adversários mais comuns das Winx e dos Especialistas são um trio de bruxas chamado Trix: Icy, Darcy e Stormy, todas ex-alunas da escola Torre Nebulosa.

Fate: A Saga Winx (2021)

Criador: Brian Young

Escondida em um mundo místico paralelo, a escola Alfea treinou as fadas nas artes mágicas por milhares de anos, mas nunca teve um aluna especial, como Bloom. Criada no mundo humano comum, ela é teimosa, gentil… e perigosa. Dentro dela existe um poder que pode destruir os dois mundos ou salvá-los. Para controlá-lo, ela tem que controlar as suas emoções. Ela é uma adolescente. Quão difícil isso poderia ser?

A série de 6 episódios segue a jornada de amadurecimento de cinco amigas improváveis ​​que frequentam Alfea, um internato mágico no Outro Mundo, onde elas devem aprender a dominar os seus poderes mágicos enquanto navegam no amor, na rivalidade e nos monstros que as ameaçam.

A série animada e a live-action são bem diferentes, tanto que listar semelhanças e diferenças não seria muito produtivo. Vou, então, comentar como cada versão aborda determinados tópicos.

  • Enredo

O “esqueleto” da história é o mesmo, uma vez que é uma estrutura comum em narrativas fantásticas no geral: uma garota aparentemente comum descobre que, na verdade, tem poderes mágicos e, assim, é enviada para uma escola, onde outras pessoas como ela aprendem a usar suas habilidades. Lá, ela descobre mais sobre si mesma e sobre sua magia.

Daí em diante, o enredo toma rumos bem distintos. Na animação, Bloom logo fazia amizade com as outras Winx e, juntas, iam frequentando as aulas e fortalecendo a ligação entre elas. Cada temporada tem um vilão diferente, mas, na primeira, as grandes antagonistas são as Trix que, em sua busca por poder, chegam a conjurar um exército de criaturas para atacar Alfea, o que culmina na batalha final da temporada.

Na série, Bloom e as outras garotas não se dão bem de início, e parecem andar juntas mais pela conveniência de morarem no mesmo dormitório. O maior conflito é a busca de Bloom por sua origem, depois de descobrir que foi uma criança trocada. Também há a ameaça dos Queimados, monstros que rodeiam Alfea há muito tempo. Beatrix e Rosalind funcionam como vilãs, mas seus motivos ainda não foram totalmente explicados nessa primeira temporada.

O passado de Bloom também é diferente. Na animação, ela é a princesa perdida de Domino, um planeta que teve sua população dizimada. Ela foi salva por sua irmã mais velha e adotada por seus pais terrestres. Na série ainda não revelaram seu passado por completo, mas como uma criança trocada, seus pais da Terra não sabiam que ela não era filha biológica deles.

  • Personagens

As Winx da série tem bem pouca semelhança com suas xarás da animação. No desenho, as personalidades das garotas eram bem mais vibrantes. Bloom era impulsiva, mas leal e amigável. Stella era arrogante, mas carismática; Musa era animada e tinha um temperamento curto; Flora era calma e tímida em alguns momentos; Aisha era aventureira e decidida; Tecna era inteligente e um tanto antissocial.

Lógico, em uma série estamos vendo pessoas, não personagens de desenho animado, mas, mesmo assim, as personalidades das garotas são moldadas para criar uma atmosfera mais obscura, séria. Bloom é antissocial e um tanto egoísta; Stella é a típica patricinha má; Musa é um tanto rude, com dificuldades de se relacionar com os outros por conta de seus poderes; Aisha é uma aluna exemplar, frequentemente apelidada de “puxa-saco” de professor; Terra (nossa “Flora” da série) é um tanto desajeitada com interações sociais, sendo ou se sentindo excluída com frequência. E a Tecna, bem, ela não está na série.

Não há nada de errado em ter personalidades mais sérias, até porque alguns dos problemas e questões que as garotas vivem são interessantes e os telespectadores podem se identificar com elas, mas não muda o fato de não ter nada a ver com o jeito de ser das Winx originais. Além disso, um dos pontos fortes da animação era a amizade das garotas, que carregava a história em vários momentos. É compreensível que na série tenham decidido não fazer com que elas fossem amigas logo de cara, mas nunca parece haver uma aproximação forte entre todas elas.

  • Diversidade

A série acertou em algumas coisas muito necessárias, mas errou em outras igualmente básicas. A iniciativa de ter fadas e especialistas de todos os gêneros foi muito bem feita, assim como colocar diferentes tipos de corpo e sexualidade no elenco. Ainda há o que melhorar nesse aspecto, como o fato de os únicos personagens aparentemente não-heterossexuais (Riven e Dane) terem uma moralidade ambígua. Com só seis episódios, é de se esperar que nem tudo seja desenvolvido, então isso pode ser melhor construído em temporadas seguintes, talvez.

Uma das maiores críticas que a série recebeu mesmo antes de estrear, porém, foi o embranquecimento da Terra e da Musa. Foi muito bom terem escolhido uma atriz negra retinta para atuar como Aisha e uma atriz gorda para atuar como Terra, mas custava muito encontrar uma atriz gorda e latina para interpretar a Terra? Além disso, a Musa era claramente asiática na animação, coisa que influenciava em todo o seu design de personagem.

  • Magia e Estética

Winx Club tinha um sistema mágico bem definido, pelo menos nas primeiras temporadas. Cada fada tinha sua especialidade, mas elas também aprendiam feitiços variados. A transformação era parte essencial de ser uma fada, sendo que cada nova transformação evidenciava um nível de poder e habilidade a mais.

Em Fate, a magia divide-se em elementos, em um sistema claro, mas que também perde a singularidade da magia do original. Afinal, nessa, perdemos a chance de ver uma fada da música e uma fada da tecnologia. A escolha de não incluir as transformações faz sentido para manter a série mais madura – já que uma sequência de transformação seria realmente meio engraçada.

Outra coisa bem diferente é a estética da série. O visual de Alfea não difere muito do mundo normal, com tons escuros, visual de castelo medieval ou de um internato europeu. O que é uma pena, pois Winx Club tinha uma estética muito única, que misturava magia, cores fortes e brilhantes, com tecnologia. Entre carros voadores, hologramas e as armas tecnológicas dos especialistas estavam os castelos de conto de fadas, florestas encantadas e asas de fada. A diferença entre a Terra e Alfea era visível no desenho, ajudando o espectador a entender o encantamento de Bloom ao adentrar naquele mundo novo.

  • Tom

Acho que ficou claro que Fate: A Saga Winx é uma obra que quer evocar seriedade, com um ar de dark fantasy. Todas as escolhas parecem apontar para isso, desde as histórias dos personagens até a ambientação e as cores com pouca saturação que dominam a tela.

Já apontei isso em outros estudos de caso, mas não é só diminuir a luminosidade da gravação e criar personagens estoicos para criar algo com mais maturidade. Fate aborda, sim, alguns temas de forma mais séria, mas Winx Club também o fez à sua própria maneira. No fim, se adaptado à risca, Winx talvez não seja mesmo uma obra feita para ser o próximo Game of Thrones. Tem uma leveza nas relações, uma graça nas transformações e uma beleza nas cores vibrantes e no glitter das roupas das fadas que é o que torna Winx reconhecível. Talvez fosse mais cabível fazer uma adaptação que se levasse menos a sério, que abraçasse mais o fato de Winx Club ser um desenho explodindo de coisas ligadas à feminilidade e admitisse que a animação tinha, sim, maturidade e temas difíceis em meio a tudo isso.

Fate não é uma série sem qualquer mérito. Por exemplo, o filme live-action de Avatar, discutido anteriormente no Estudo de Caso, erra tanto como adaptação quanto como uma obra separada da animação original, não se sustentando no geral. Já Fate: A Saga Winx funciona melhor como uma história separada da animação. Claro, não é uma obra de arte; os diálogos toscos e o uso duvidável de CGI em certos trechos são alguns aspectos da construção da série que deixam a desejar, mas, se ignorarmos que é uma adaptação de Winx Club, é uma história interessante e cativante de sua própria maneira.

É aí, porém, que reside o problema. Como ficou claro nas comparações que fiz acima, as únicas semelhanças de Fate com a animação são alguns nomes de personagens e lugares, alguns aspectos de seus poderes e só. Para os fãs antigos da série, que cresceram assistindo o desenho, chega a ser absurdo chamar Fate de adaptação de Winx Club. De fato, muita gente que nunca viu a animação está curtindo a série.

O fato de o criador da animação, Iginio Straffi, estar envolvido na produção da série deu esperança a muita gente de que o live-action seria mais fiel ao desenho, o que não aconteceu. Como criador da obra, Straffi tem uma visão artística sobre o que estava sendo feito e, gostando ou não do resultado, ele tem o direito de moldar a história como deseje. O problema, o que faz tudo parecer um tanto insincero, é o fato de a construção e propaganda de Fate como a versão mais madura e atualizada de Winx parece, acima de tudo, uma jogada de marketing. Afinal, provavelmente não haveria tanta discussão sobre Fate se fosse mais uma série de fantasia, nova e sem a capacidade de fazer as pessoas assistirem pela nostalgia do desenho que amavam quando crianças.

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Mariama Soares Sene Pereira
Mariama Soares Sene Pereira
Artigos: 26

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