Com os debates começando em 2016, e sendo aprovado no começo de 2017 por meio da lei 13.415, o Novo Ensino Médio entra em vigor no estado de São Paulo no ano que vem, 2022. Mas, afinal de contas, o que vai mudar? É isso que será discutido no post de hoje.
O QUE MUDA?
O Novo Ensino Médio já começou a ser implementado, em 2021, para o 1º ano nas escolas de São Paulo. E, em 2022, o novo modelo chegará para os estudantes do 2° ano.
De acordo com o site do Governo do Estado de São Paulo sobre o assunto:
“A Lei Federal nº 13.415/2017 substitui o modelo único de currículo para etapa do Ensino Médio por um modelo diversificado e flexível. Assim, esta etapa será composta pela formação geral básica (comum a todos os estudantes), com carga horária máxima de 1.800 horas, e por itinerários formativos (parte diversificada e flexível), com carga mínima de 1.200 horas.” (SÃO PAULO, p.46, 2020)
Nesse sistema, o currículo é organizado por áreas de conhecimento, não por disciplinas.
A formação geral básica são as matérias que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) aponta como obrigatórias e devem ser ensinadas durante os três anos de ensino, independente de fazerem parte do itinerário escolhido pelo estudante. As disciplinas obrigatórias são Matemática e Língua Portuguesa.
As demais disciplinas foram transformadas em competências ou habilidades, ficando a cargo das escolas decidirem como serão ensinadas.
Os itinerários formativos são três, escolhidos pelo estudante a partir do 2° ano do Ensino Médio. Toda escola deve fornecer pelo menos um dos itinerários em seu currículo:
- Aprofundamento curricular nas áreas do conhecimento — o estudante deverá escolher 1 ou 2 das 10 opções abaixo:
- Áreas de Ciências Humanas e Linguagens;
- Áreas de Ciências da Natureza e Matemática;
- Áreas de Matemática e Ciências Humanas;
- Áreas de Linguagens e Ciências da Natureza;
- Áreas de Linguagens e Matemática;
- Áreas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza;
- Área de Linguagens e suas tecnologias;
- Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas;
- Área de Ciências da Natureza e suas tecnologias;
- Área de Matemática e suas tecnologias.
- Áreas do conhecimento com Novotec Expresso – há o aprofundamento em uma área de conhecimento e o ensino profissionalizante, do qual o aluno poderá receber dois certificados de qualificação profissional;
- Novotec Integrado – Curso técnico – além do diploma do ensino médio, o estudante receberá um diploma de curso técnico de 1200 horas. São oferecidos 21 cursos:
- Administração;
- Marketing;
- Logística;
- Recursos humanos;
- Comércio;
- Finanças;
- Contabilidade;
- Desenvolvimento de Sistemas;
- Informática para Internet;
- Serviços Jurídicos;
- Serviços Públicos;
- Guia de Turismo;
- Design Gráfico;
- Design de Interiores;
- Eventos;
- Nutrição e Dietética;
- Eletrônica;
- Eletrotécnica;
- Química;
- Análises Clínicas;
- Farmácia.
Haverá um aumento gradativo da carga horária total dos três anos de ensino médio que passará de 2400 horas para 3000 horas, divididas entre as 1800 e 1200 horas citadas acima.
PROTAGONISMO DE QUEM?
“O Novo Ensino Médio tem foco no protagonismo, na escolha das áreas de interesse, na atuação ativa na escola e na definição do Projeto de Vida de cada estudante. Os itinerários formativos irão ajudá-lo a se preparar para conquistar melhores oportunidades no mercado de trabalho, além de aprofundar os conhecimentos exigidos pelos exames vestibulares.”
É fácil citar vários livros de ficção em que jovens de 15, 16, 17 anos salvam o mundo.
E a tarefa não é simples: em Jogos Vorazes, Katniss Everdeen se torna símbolo de uma revolução contra um sistema opressor; Percy Jackson, já aos 12 anos, lutava com monstros mitológicos tão velhos quanto o próprio Universo. Harry Potter derrotou um vilão diferente a cada ano escolar em Hogwarts.
Se tem uma coisa que a literatura — principalmente a mais popular entre os jovens — faz, é colocá-los como protagonistas inegáveis.
Acontece que ninguém consegue ser protagonista, mudar o mundo, sozinho. Todos esses grandes heróis dos livros tiveram seus mentores, amigos, alguém que os ajudasse e os guiasse. E, se não tiveram, menos um ponto em verossimilhança.
Ok, e o que isso tem a ver com o Novo Ensino Médio?
Quem já passou ou ainda vai passar pelo processo de terminar o Ensino Médio e ter que decidir que caminho seguir, seja em um emprego ou para escolher o curso da faculdade, sabe a pressão gigantesca que é tomar essa decisão. São poucos os que têm certeza inabalável de suas escolhas, ainda mais por estarem em uma fase em que as coisas são tudo, menos estáveis.
O Novo Ensino Médio, ao propor os itinerários, pede que o aluno escolha seu caminho ainda mais cedo, quando se tem ainda menos certeza. Ser protagonista nessas condições não é tão romântico quanto parece.
O Ensino Médio anterior estava longe de ser perfeito, mas a oportunidade de ter contato com as mais diversas disciplinas, de forma obrigatória, servia para que o aluno pudesse experimentar do que gostava e do que não gostava. Com somente um ano de contato obrigatório com todas as áreas, talvez o tempo não seja suficiente.
Críticas ao Novo Ensino Médio não faltam. Há especialistas que apontam que os cursos técnicos são curtos demais para terem qualidade o suficiente para garantir bons empregos.
Aponta-se que, apesar de vestibulares grandes como o da USP e da UNICAMP darem peso maior para matérias específicas em sua segunda fase, de acordo com o curso de escolha do candidato, o conhecimento geral ainda se faz necessário na primeira fase. Os itinerários podem, assim, ser uma barreira para a universidade, principalmente para os que optarem por seguir o curso técnico.
Mais da metade dos municípios do país tem somente uma escola. Por esse motivo, muitos alunos ficarão restritos ao que sua escola puder oferecer, independente de ser o itinerário que ele gostaria de seguir — na prática, restringindo as suas escolhas.
Com tudo sendo implementado no meio de uma pandemia, fica ainda mais difícil medir o quanto as mudanças são eficazes ou ineficazes, com alunos e professores em um sistema de ensino à distância emergencial que não pode servir de parâmetro para nada.
Agora, com o Novo Ensino Médio já em vigor, cabe estar atentos aos desdobramentos das mudanças, esperando pelo melhor, mas sem deixar de criticar o que for necessário.
Referências:
https://novoensinomedio.educacao.sp.gov.br/
http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=40361
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Essa iniciativa surge com o intuito de valorizar a educação, a ciência e a universidade. O post educacional ocorre mensalmente aqui no blog e com ele, a Odisseia tem como objetivo apresentar reflexões, críticas e sugestões para os estudantes, além de incentivar e auxiliar a entrada na universidade. Acreditamos na mudança por meio da educação. Portanto, essa é a nossa pequena contribuição para a valorização do nosso futuro!