Posso me chamar de escritor se ao menos sei se o que escrevo é literatura?

Você já se sentiu inseguro com os textos que você produziu? Afinal, a partir de que ponto alguém pode se dizer escritor de literatura?

Você já se perguntou se é realmente um escritor? Ou já se sentiu inseguro com os textos que você produziu e não conseguiu decidir se poderia chamar o seu trabalho de literatura? Mas o que é literatura?

Afinal, vivemos em um mundo com tantos autores e obras incríveis que, às vezes, é realmente difícil pensar que o que escrevemos seja qualquer coisa de valor. Mas as coisas são muito mais simples do que parecem!

Alguns tempos atrás eu estava na equipe de tutoria (para quem não sabe, Odisseia oferece um serviço de acompanhamento de escrita) para um autor de poesias. E, num determinado dia, algo aconteceu e não saiu mais da minha cabeça.

Os textos do autor eram muito interessantes e, inquestionavelmente literários e poéticos – Claro, alguns melhores, outros precisavam de refinamento, mas isso é normal!

Ok, estávamos em uma de nossas reuniões e ele me disse algo assim: “eu chamo isso aqui [os poemas] de textos. Eu nem sei se isso que eu faço é literatura”.

E isso reverberou em mim por vários dias. Como assim? As obras dele eram, do meu ponto de vista, claramente literárias; algumas eram mais experimentais, outras assumiam formatos mais clássicos, mas de todo o modo, eu não conseguiria pensar em outra forma de compreendê-las.

Ele escrevia literatura. Era um autor de poesia. Era um poeta.

Mas por que? De onde vem essa insegurança? E, mais do que isso, a partir de que ponto alguém pode se compreender como escritor de literatura? Pois é exatamente isso que vamos discutir hoje.

Escritor enquanto profissão

Um primeiro ponto a se levar em conta aqui é que não estamos falando da profissão de escritor, que é uma atividade não restrita a literatura ou a ficção.

Existem MUITOS ramos dentro da escrita como trabalho, como:

  • blogueiros;
  • copywriters;
  • analistas de conteúdos;
  • roteiristas;

Mas essa não é a questão hoje, estamos falando de Escrita Criativa! E acredito que, se você for um profissional que consegue pagar suas contas com sua escrita, você não deve ter muitas dúvidas de que é um escritor, não é mesmo?

O assunto de hoje não é a escrita como profissão. Estamos concebendo aqui o de escritor enquanto artista das palavras.

Sim, mas… o que é literatura?

De maneira muito simplificada,

“A literatura (do latim littera, que significa “letra”) é uma das manifestações artísticas do ser humano, ao lado da música, dança, teatro, escultura, arquitetura, dentre outras.

Ela representa comunicação, linguagem e criatividade, sendo considerada a arte das palavras.

Trata-se, portanto, de uma manifestação artística, em prosa ou verso, muito antiga, que utiliza das palavras para criar arte, ou seja, a matéria prima da literatura são as palavras, tal qual as tintas é a matéria prima do pintor.”

Disponível em: https://www.todamateria.com.br/o-que-e-literatura/

Mas essa é uma descrição tão abrangente que, na prática, é quase impossível responder a nossa pergunta. Até porque, não há consenso. Música é literatura? Não exatamente, mas Bob Dylan ganhou um Nobel literário por suas composições em 2016.

Definir literatura é algo tão complexo quanto definir a arte em si. Então, para todos os fins práticos, se você concebe sua escrita como um processo criativo artístico, você escreve literatura; seja ela em versos, em prosa ou na forma inconvencional que for.

Ars gratia artis

Historicamente, a palavra etimologicamente mais próxima de “arte” é Ars/artis, em Latim:

“Maneira de ser ou de proceder, qualidade. Habilidade (adquirida pelo estudo ou pela prática), conhecimento técnico. Talento, arte, habilidade. Artifício, astúcia .Ofício, profissão. Trabalho, obra, tratado”

Disponível em: dicionariodelatim.com.br

Arte neste sentido não diz respeito ao processo criativo e significativo que hoje temos em mente, mas sim às habilidades e à técnica – sentido que se mantém, por exemplo nas artes marciais.

Nosso entendimento atual, de uma arte estética, simbólica e não utilitária, está vinculado à expressão “arte pela arte” (ou, em latim, ars gratia artis), noção que ganhou força com movimentos artístico-estético-literários como o romantismo.

Mas por que dizer tudo isso? Para evidenciar que, primeiro, o essencial na escrita literária não são os conjuntos de “regras” que a permeiam, mas o uso que você, artista, faz desses preceitos.

Isso não quer dizer que não exista técnica na escrita, mas sim que a literatura é subjetiva. Um escritor escreve conforme a sua visão e suas particularidades.

E, principalmente, não é porque você não vive disso que você não é escritor. Se a arte tem como finalidade ela mesma, não importa se você vai distribuir seus textos gratuitamente, recitá-los em um sarau ou publicá-los através de uma grande editora.

O que importa é escrever e conceber sua escrita como um processo literário.

Regras e mais regras

Há muitos posts por aí dizendo o que você deve ou não fazer para ser um bom escritor. Cuidado!

A escrita é um processo criativo e, portanto, único. Claro, sempre podemos aprender com os outros, e há muitas dicas e técnicas que podem te ajudar, mas não se limite a isso: explore!

O único pecado que você pode cometer é não escrever. Afinal, isso seria postergar seus sonhos e deixar de dar à luz a suas ideias. Crie aquilo que você gostaria que existisse no mundo.

E, caso você seja um escritor e ainda se sinta inseguro com as suas obras, eu te deixo um conselho: Antes de qualquer coisa, tente. Tente. Erre. Tente de novo.

Apesar de artística, a escrita também tem que ser aprendida. Ninguém fica bom em nada da noite para o dia! E haveria uma maneira mais emocionante de encontrar sua voz e estilo como escritor do que escrevendo?

É por isso que temos esse quadro de escrita criativa, para levantar discussões e trazer novas ideias! E claro, a Odisseia sempre está aqui caso queira uma ajudinha! Para saber mais sobre a nossa tutoria em escrita criativa, clique ,aqui!

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Uma questão importante

Considerando tudo o que discutimos, talvez a pergunta mais importante seja que eu poderia fazer para você é: “por que você escreve?”. Afinal, é isso o que guia a sua arte, o que te torna um autor.

Pense, pense com carinho. Não há uma resposta certa e, com certeza não precisa ser um motivo profundo e existencial; mas de toda forma é o seu motivo!

Por que você escreve?

Manuel Bandeira

“Na verdade, faço versos porque não sei fazer música… Jamais senti que meu destino fosse a Poesia, sobretudo assim com esse P maiúsculo que pressinto na sua garganta. Creio que se fui poeta em alguns momentos, só o fui por incidente patológico ou passional.”

Fernando Pessoa

“Eu escrevo para salvar a alma.”

Clarice Lispector

“Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que foi essa que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.”

Mais respostas disponíveis em: https://homoliteratus.com/por-que-escrevo-19-depoimentos-que-voce-precisa-conhecer/

Odisseia
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